Clássicos de Literatura Gay
22 |
A Vida Sexual
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EXCERTOS
Desde o exagero de Hoessli, que chegou a considerar os órgãos sexuais externos como sinais supérfluos e mesmo nocivos para a determinação psíquica dos sexos, até à doutrina corrente em que se liga valor absoluto aos órgãos genésicos, há um meio termo em que reside a verdade dos factos. No estado atual da ciência não se pode negar a existência de sensações femininas em homens providos de órgãos genitais normalmente conformados, assim como não pode negar‑se o aparecimento de sensações masculinas em mulheres com os órgãos sexuais normalmente desenvolvidos.
Há homens que só se excitam genesicamente com a aproximação de outros homens e há mulheres que só experimentam desejos sexuais quando se aproximam de outras mulheres. Daí a designação de homossexualidade com que encimamos o presente capítulo. Vários termos têm sido empregados para classificar este grupo de vícios genésicos. De entre eles, destacamos os mais vulgarizados. Um dos que hoje mais circula é o uranismo. Esta palavra foi introduzida na ciência por Ulrichs, que a faz derivar de Uranus, personagem que, segundo umas passagens do Banquete, de Platão, sofrera de perversão homossexual, e tanto que teve como filha Afrodite que, no dizer da lenda, nascera sem mãe. Mas o uranismo abrange apenas a homossexualidade masculina e só neste sentido deverá ser aplicado. Tem‑se por vezes empregado a designação de pederastia para classificar as tendências homossexuais masculinas; mas o termo é incorreto, porque apesar de, pela sua origem grega (παίδóςἐραστής), significar amador de rapazes, é certo que de há muito circula na ciência médica e nas leis penais como significando apenas um pequeno grupo de degenerados homossexuais, o dos que membrum in anum imittunt. [N.E.: «inserem o membro em ânus» (em latim no original, tradução livre]. É portanto má designação genérica. |
Para a homossexualidade feminina também há designações várias. Nenhuma porém conheço que, com propriedade etimológica, abranja todas as suas manifestações. Assim, o safismo abrange apenas um grupo dessas práticas, porque consiste na fricção do clitóris com a língua, seguida de sucção. E contudo, é esta uma das expressões mais divulgadas e que, por vezes, se encontra nos livros da especialidade com designação geral que não lhe daremos.
Alguns autores empregam também as designações de lesbismo e tribadismo para significar relações homossexuais femininas. O lesbismo deriva de Lesbos, a conhecida ilha em que a tradição colocou a origem da masturbação bocal. As práticas da mútua masturbação manual, os toques anais pelos dedos, as fricções voluptuosas, etc., são também designados por este termo. Por isso o aplicaremos como designação geral. O tribadismo (de τρίβω — friccionar) significava antigamente uma forma especial de masturbação recíproca usada entre as mulheres pelas que possuíam clitóris excecionalmente compridos, simulando assim a cópula normal. Os latinos davam respetivamente os nomes de fictrices e de subigatrices às mulheres que se entregavam a estas práticas. Ultimamente, porém, muitos autores têm tomado o tribadismo como sinónimo do amor físico entre duas mulheres, qualquer que seja a forma porque é satisfeito. E até, modernamente, Mantegazza, depois de citar os casos célebres de Duhousset, Paul Eram, Tegg, etc., diz o seguinte: «algumas vezes o tribadismo não é senão questão de voluptuosidade física, e a mulher pede a voluptuosidade à língua de outra mulher, como à do homem, com absoluta indiferença; mas a maior parte das vezes associa‑se à luxúria uma verdadeira paixão ardente e que tem todas as exigências e todos os ciúmes do amor verdadeiro». Ora nem a origem da palavra, nem a generalização que se lhe deu, justificam que com ela se possam designar determinadas devassidões heterossexuais. |
SOBRE O AUTOR
António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz nasceu em Avanca, Estarreja, em 1874.
Foi um distinto médico, neurocirurgião, investigador e professor, galardoado com o Nobel da Medicina em 1949. Faleceu em Lisboa, em 1955. À direita, retrato de Egas Moniz, anterior a 1910, possivelmente contemporâneo da publicação de A Vida Sexual (fonte: Wikipédia, em domínio público)
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FICHA TÉCNICAA Vida Sexual: Homossexualidade, de Egas Moniz.
1ª edição, 2025, Revisão e notas: João Máximo e Luís Chainho. Copyright © João, Máximo e Luís Chainho, 2025. 185 páginas. Todos os direitos reservados. ISBN: 979-8230646457 (ebook) ISBN: 979-8308635697 (papel capa mole) |
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