Retrato de Fialho de Almeida (1891), por Columbano Bordalo Pinheiro (fonte: Wikipédia, em domínio público)
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FIALHO DE ALMEIDAJosé Valentim Fialho de Almeida foi um jornalista e escritor. Nasceu em Vidigueira, no dia 7 de maio de 1857, e morreu em Cuba (Portugal), no dia 4 de março de 1911.
Para a Associação Cultural Fialho de Almeida: “Fialho de Almeida foi uma figura controversa, e embora deixando uma obra importante, esteve sempre sob comentários pouco abonatórios por não ter escrito um grande romance, ou simplesmente por parte daqueles que não leram os seus textos, e por isso se apegam ao mais fácil, que são as referências ao casamento rico, aos maus‑tratos que infligia à mulher, à sua extravagância, à tendência homossexual, etc., a vulgaridade que tem contribuído para o minimizar, enquanto a obra foi ficando esquecida e não valorizada. Exceções importantes são as vozes dos que têm vindo a apostar no estudo de Fialho, na reinterpretação dos seus textos, e em conferir ao autor e à obra a dignidade que merecem.” António Fernando Cascais observa que “a breve insinuação que Camilo Castelo Branco faz sobre a vida sexual de uma personagem secundária de A Corja (1880) parece bem mais complacente, mas Fialho de Almeida volta a ser pouco empático nos contos A Verruga, Miss Ellen (1890) e O Funâmbulo de Mármore (1881), e menos ainda na descrição do ambiente crepuscular do engate masculino em Lisboa no conto De Noite (1890), em contraste com as suas exaltantes descrições da beleza masculina noutras obras, que antecipam as muito posteriores de Manuel Teixeira Gomes. Uma leitura atenta mostra que Fialho conhecia por íntima experiência aquilo de que falava, mas o segredo mal guardado do seu armário pessoal só muito mais tarde viria a ser escancarado, preto‑no‑branco, por Fernando Pessoa.[1] Com Fialho, que era médico, a linguagem higienista do desvio, da anormalidade e da degenerescência começa a penetrar no discurso literário, para se impor definitivamente com Abel Botelho, no seu O Barão de Lavos (1891) e, logo, em Sáficas (1902) e O Senhor Ganimedes (1906), de Alfredo Gallis.” Obra: Contos (Porto, Braga: Ernesto Chardron, 1881), A Cidade do Vício (Porto: Ernesto Chardron, 1882), Os Gatos (Porto: Alcino Aranha, 1889‑1894, em 6 vols.), Lisboa Galante (Porto: Civilização, 1890), Pasquinadas (Porto: Civilização, 1890), Vida Irónica (Lisboa: Monteiro & Cª., 1892), O País das Uvas (Lisboa: M. Gomes, Porto: Magalhães & Moniz, 1893), Madona do Campo Santo (Coimbra: Moderna, 1896), Um Cão Pastor no Gelo (Lisboa: Cândido de Magalhães, 19‑‑?, com Guiomar Torresão), Literatura Gá‑gá (19‑‑?), À Esquina (Coimbra: França Amado, 1903), Livro Proibido (Lisboa: Colonial, 1904, com Abúndio Gomes e Manuel Penteado), Galiza (1905), Barbear, Pentear (Lisboa: A.M. Teixeira, 1910), Saibam Quantos... (Lisboa: A.M. Teixeira, 1912), Aves Migradoras (Lisboa: Clássica, 1921), Estâncias d’Arte e de Saudade (Lisboa: Clássica, 1921), Figuras de Destaque (Lisboa: Clássica, 1923), Actores e Autores (Lisboa: Clássica, 1925), Ceifeiros (Lisboa: Clássica, 1931), O Castelo de Alvito (Lisboa: Astória, 1946), O Natal na Tristeza de Um “Sem Família” (Lisboa: O Mundo do Livro, 1957), Quatro Cartas Inéditas de Fialho de Almeida (Lisboa: Ocidente, 1959), Fialho Negro (Lisboa: &etc, 1981), O Milagre do Convento (Mem‑Martins: Europa‑América). Bibliografia:
[1] Vieram dar-me hoje a notícia de que morreu Fialho de Almeida. Foi há 3 anos, parece, mas quem, como eu, não vive anexo às variações da imoralidade do meio, pouco ou nada sabe, senão por acaso a respeito das flutuações, como mortes, no mercado dos pederastas. Em todo o caso, como ele morreu, e era colega, porque escrevia, não quero deixar de pôr aqui umas notas dignas dele, e tanto quanto possível à maneira dele, tratando-o como ele tratou os mortos. Assim estas minhas palavras serão como que uma continuação da atitude dele, fá-lo-ei ressuscitar temporariamente, parecerá sair o melhor do estilo, sobretudo quanto a ordem e linha que é ele próprio quem, desdobrado, acorda, e vai escrever sobre [o conhecer de] si próprio. A figura de Fialho de Almeida forma-se de 3 elementos: era um homem do povo, um pederasta e um grosseirão, criatura da estepe alentejana, com calos na sensibilidade humana, e uma depressão onde devia ter a bossa da delicadeza. Tirante o amor à paisagem e aos homens, nada o atraía para nada, metido sempre na (Fernando Pessoa, “Diário de Vicente Guedes”, 1914, fragmento de folha manuscrita, em Pessoa Plural: A Journal of Fernando Pessoa Studies, n.º 9, primavera de 2016, editores Onésimo Almeida, Paulo de Medeiros, Jerónimo Pizarro, ler aqui). |