Clássicos de Literatura Gay
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HENRIQUETA
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EXCERTOS
ATO I
A cena representa o passeio das Fontainhas em véspera de S. João. Árvores, bancos, fogueiras, etc., etc. (...) Cena XII Henriqueta, Berta, que de quando em quando aparece ao fundo, depois Etelvina. Henriqueta — É preciso passar o roubo às mãos de Berta e avisar Porta de Ferro. Ah! Etelvina... agora não posso perder um minuto. (Corre para ela).
Etelvina (entrando) — Aqui estou. Consegui fugir sem que me vissem, mas toda eu tremo. Henriqueta — Sossega. Lembra‑te que tenho nas minhas mãos o teu futuro de riqueza. Não vaciles um momento. Vem comigo. Hás de ser feliz, viver na abundância, desfrutar todos os prazeres do mundo que o ouro nos proporciona. Etelvina — Mas meus pais, coitados? Quem sabe se a minha fuga lhes acabará a existência? Henriqueta — Louca! A vida não é coisa tão fraca que sucumba a qualquer desgosto, por maior que ele seja! Etelvina — Não, não. Receio que os vou matar... Parece‑me que volto para trás! Henriqueta (com força) — Não. Prometeste seguir‑me, hás de cumprir a tua palavra. Não me queiras por inimiga. Sabes que não recuo em frente dos maiores perigos. Os únicos encantos que desfruto no mundo são os meus caprichos de todos os dias, as minhas loucuras de todas as horas. O que a ambição me despertar, está logo na minha mão. A fortuna bafeja‑me por toda a parte e os que me conhecem parece que à porfia[1] se esmeram em auxiliar as minhas aventuras. Não dou a ninguém o direito de conquista. |
Etelvina — Olha, Henriqueta, eu estou arrependida do que te prometi... Deixa‑me ir embora. Henriqueta — Os teus rogos são perdidos. Que juras fizeste à tua consciência? Vamos, tua família pode vir por aí. Um minuto só pode perder‑nos. Vacilas entre a desgraça que te persegue e a ventura que te sorri? Eu não te engano, porque se o fizesse, assim como hoje foges a tua família, podias fugir‑me também. Etelvina — Valha‑me Deus! Henriqueta — Não te consinto mais uma palavra! Espera‑te uma carruagem. (Dá um assobio) Tua família não pode tardar em perceber a tua falta. Vem comigo, Etelvina. (Entram Corriola e Porta de Ferro). Etelvina — Pois bem! Cumpra‑se o meu destino. Ah! quem é esta gente? Henriqueta — Dois criados firmes! Corriola — A carruagem está pronta. Henriqueta (baixo a Corriola) — Guia esta menina e corre os estores das portinholas. Corriola — Sim, senhora, vamos! Etelvina — Adeus, meu pai... minha mãe... Perdoem‑me! (Sai com Corriola). Henriqueta (baixo, a Porta de Ferro) — Porta de Ferro, entrega imediatamente o relógio que roubaste nas mãos de Berta. Perseguem‑te. Ouvi que davam os teus sinais e hoje não podes ser preso porque preciso de ti de madrugada. Vê o que fazes... Vem ter comigo à praça das Flores. (Sai). |
SOBRE O AUTOR
AUGUSTO GARRAIO
Augusto Garraio nasceu em Lisboa, no dia 23 de junho de 1845. Foi um dramaturgo e compositor muito reconhecido à época. Exerceu distintas atividades no mundo do teatro, desde ator, ensaiador, empresário e escritor dramático de dramas, comédias e teatro musicado.
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FICHA TÉCNICAHenriqueta, a Aventureira: drama em 5 atos, de Augusto Garraio
1ª edição, 2025, Revisão e notas: João Máximo e Luís Chainho. Copyright © João, Máximo e Luís Chainho, 2025. 135 páginas. Todos os direitos reservados. ISBN: 979-8230842330 (ebook) ISBN: 979-8309896691 (papel capa mole) |
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