Clássicos de Literatura Gay
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HENRIQUETA
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EXCERTOS
A morte de Etelvina produziu no espírito de Henriqueta uma impressão profundíssima.
Laços mais estreitos que os da amizade a prendiam à pobre vítima. Dizia o mundo que a pecadora era hermafrodita. Nega a ciência que semelhantes monstros existam na espécie humana; no entanto, a observação parece demonstrar o contrário. Como quer que seja, o certo é que Henriqueta sentia por Etelvina o que quer que fosse de estranho; adorava‑a; cercava‑a dos carinhos de que um amante extremoso cerca a mulher dos seus pensamentos; contemplava‑a com indizível ternura; rodeava‑a dos mais solícitos cuidados; e parecia aflita, indisposta, incomodada, se um homem qualquer fitava o objeto de seu amor com equívoca atenção. Correram boatos atrozes; registá‑los aqui seria útil para perfeita avaliação do carácter da pecadora; mas a moral e a própria dignidade opõem‑se ao nosso desejo; todos sabem que, de todos os vícios, é a luxúria o que mais extravagâncias oferece; vejam‑se os velhos impotentes e as mulheres condenadas a uma eterna abstinência, ou derrancadas por longos anos da vida licenciosa. Henriqueta estava neste último caso. Aquela organização estava gasta; os sentidos embotados; a sensibilidade exaurida. Que restava, portanto, à infeliz, devorada pelos tédios do mal, pelas negras nostalgias do cansaço? As monstruosidades do vício. Passemos adiante. (excerto do cap. XIII) |
Mendonça empalideceu.
— Correm por aí umas histórias acerca dessa mulher — replicou o pai de Emília — realmente assombrosas. Pelo que vejo, a criatura é levada de mil diabos. — Pois bem — continuou o negociante — Há cerca de um ano que a pecadora aparecia por aí frequentes vezes, acompanhada de uma rapariga de notável formosura, que passava por sua amante e a quem tributava um afeto nada vulgar. — Sua amante? — interrompeu o bacharel — Essa não é má! — É o que lhe digo. A mulher passa por ser hermafrodita e, seja verdade ou não seja, o certo é que ela persegue por aí as moças com mais empenho do que eu as perseguia no meu tempo. O bacharel fez um gesto de dúvida. O negociante continuou: — Nessa época, vivia Henriqueta com certo fausto e parecia fazer gosto da vida. Tinha trem, parelha, criados de farda, cães de preço, frequentava os teatros, etc. A rapariga acompanhava‑a sempre. A elegância do seu vestuário contrastava com a humildade da toilette da sua amiga, que parecia desadorar os vestidos custosos e outros enfeites tão procurados do belo sexo. O único objeto de luxo que trazia era um soberbo relógio de ouro, preso por uma grossa cadeia do mesmo metal, de que ainda hoje faz uso. — Excêntrica mulher! — exclamou o bacharel. (excerto do cap. XIX) |
SOBRE O AUTOR
ANTÓNIO JOAQUIM DUARTE JÚNIOR
António Joaquim Duarte Júnior foi tipógrafo no Comércio do Porto e jornalista correspondente do Jornal do Comércio, de Lisboa.
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FICHA TÉCNICAHenriqueta ou Uma Heroína do Século XIX, de António Joaquim Duarte Júnior.
1ª edição, 2025, Revisão e notas: João Máximo e Luís Chainho. Copyright © João, Máximo e Luís Chainho, 2025. 240 páginas. Todos os direitos reservados. ISBN: 979-8230625728 (ebook) ISBN: 979-8309894079 (papel capa mole) |
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