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Eduardo de Souza Caxa"Por que escrevo?
Porque aconteceu alguma coisa, porque não acontece nada, porque pensei n’algo inteligente, porque me divirto sendo idiota, porque me encontrei com alguém, porque me encontro, me perco, porque acordei, porque não queria dormir, porque há quem goste (...) porque alivia, conforta, esclarece, organiza, porque vem, porque sim." Depois do sucesso do seu primeiro livro, publicado há 4 anos, Eduardo de Souza Caxa brinda-nos em 2020 com um conjunto de novas histórias, contos, crónicas e poemas, que nos divertem, emocionam, ensinam e, quase sempre, nos obrigam a pensar. |
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EXCERTOS
O som ao redor
Não gosto da palavra “marido”! Digo, não gosto de seus fonemas estridentes (como a própria palavra “estridente”, esta sim uma perfeita combinação de forma/som e conteúdo/significado). O problema não está no “ma” ou no “do”, mas no “ri”. Unhas riscando um quadro-negro. Riiiiiii... Deveríamos abrandar os fonemas, arredondá-los, para limar da palavra uma aspereza que não deveria caber-lhe. Ma... li... do! Hummm! Remete ao Cebolinha, claro – infantil. Ou a orientais que também trocam o “r” pelo “l” feito o personagem do Maurício. E não queremos tomar-lhes a “identidade”. Ma... mi... lo! Nhé! Então “esposo”! Aliás, não entendo o uso de “marido”, já que o masculino para “esposa” existe como tal. Mas como começar uma relação usando palavras que contêm em si a ideia do divórcio? “Ex-poso”, “ex-posa”... “Poso”... “posa”... “Pouso”. “Pousada”. Descanso, aconchego, proteção. Mas quem sou eu pra inventar moda ou palavra? A primeira há de servir, portanto, coberta com o manto do significado que eu lhe der. |
Se eu fosse conhecer uma moça…
Atrai-me a pele negra O sangue negro que percorre as veias largas A costa larga banhada em suor salgado que vai e vem Quente – febre da qual não se escapa O mato, a planície da sua fronte, a serra das suas coxas, a boca branca, cheia de dentes, ou sem eles, cravados de tempo A beleza rica que apresenta não esconde a miséria que origina a real qualidade: generosidade! Essa moça… mbique. |
Eduardo de Souza CaxaEduardo de Souza Caxa nasceu na madrugada de uma Quarta-Feira de Cinzas e por isso acredita ter um pé no profano, outro no sagrado. Nem lá nem cá, nem direita nem esquerda (mentira! esquerda...), nem convicto nem confuso, do século passado mas com olhos no futuro. Sua única certeza é a de gostar muito de escrever (porque da morte tem suas dúvidas também).
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