Clássicos de Literatura Gay
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O SR. GANIMEDESAlfredo GallisLígia casa-se por interesse com um rico comerciante que fez fortuna no Brasil, bastante mais velho do que ela. Respeita-o, mas não o ama. Quando fica viúva, aos 32 anos de idade, regressa a Portugal e perde-se de amores por Leonel, que conhecera em criança, quando era tímido e efeminado, mas que agora crescera para se tornar um esbelto e elegante jovem que fazia suspirar todas as donzelas de Lisboa. Mas Leonel estava era apaixonado por Liberato, um homenzarrão rude e façanhudo, de farto bigode, que o gostava de ver vestido de dama fina.
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EXCERTO
"O desflorador da honestidade do Leonel fora um contínuo do Liceu, antigo sargento de cavalaria bruto e espadachim, que os rapazes temiam e respeitavam, e era chamado em particular quando se queria conservar a ordem no estabelecimento.
Sodomita medonho, a beleza grácil do Leonel tentou-lhe o vício, e em troca de o defender contra as partidas dos camaradas, abusou dele, iniciando-o nas mais desonestas práticas.
Pervertido, e conhecido o caso, o Leonel prestou-se às exigências lascivas dos colegas, e quando ainda não completara dezoito anos, já tinha pertencido ao major Terramonde, ao padre Amâncio, explicador de matemática, ao mestre-de-obras Aparício Batalha, e ao capitalista Couto, de cujas mãos avaras passou para as do conde da Lagoa Escura, homem riquíssimo, distinto, ilustrado, do mais fino gosto estético e artístico.
(...)
E na casinha da rua do Trombeta passava horas esquecidas vestido de senhora, como esse célebre abade de Choisy, a quem o cardeal Mazzarino chamava ironicamente a mais linda mulher masculina da corte de França!"
Sodomita medonho, a beleza grácil do Leonel tentou-lhe o vício, e em troca de o defender contra as partidas dos camaradas, abusou dele, iniciando-o nas mais desonestas práticas.
Pervertido, e conhecido o caso, o Leonel prestou-se às exigências lascivas dos colegas, e quando ainda não completara dezoito anos, já tinha pertencido ao major Terramonde, ao padre Amâncio, explicador de matemática, ao mestre-de-obras Aparício Batalha, e ao capitalista Couto, de cujas mãos avaras passou para as do conde da Lagoa Escura, homem riquíssimo, distinto, ilustrado, do mais fino gosto estético e artístico.
(...)
E na casinha da rua do Trombeta passava horas esquecidas vestido de senhora, como esse célebre abade de Choisy, a quem o cardeal Mazzarino chamava ironicamente a mais linda mulher masculina da corte de França!"
CRÍTICA
"Este livro foi inspirado pelo caso Trombeta, que se referia a dois rapazes que desapareceram em julho de 1886 para serem encontrados a viver na Rua da Trombeta onde os obrigavam a prestar serviços sexuais a homens de negócio ricos. Estes casos foram reportados no livro de Asdrúbal António de Aguiar, Evolução da Pederastia e do Lesbismo na Europa.
O Senhor Ganimedes é um romance sensacionalista, explosivo, que conta a história de uma viúva rica que casa com um amigo de infância que cresceu para se transformar num caçador de fortunas. Ele não consegue consumar o casamento e vem-se a descobrir mais tarde que é um homossexual que se transveste e que tem um amante masculino. No prefácio, o autor afirma que deseja prevenir as raparigas inocentes e as suas famílias contra os perigos do casamento com homossexuais mercenários, mas o enredo falha conspicuamente na validação da moral tradicional. O romance termina com a viúva encontrando finalmente satisfação sexual com o oficial do Exército que expôs o marido, que cai nos braços do seu amante exclamando «Enfim, livre e só teu!»”
- Robert Howes, em in Depicting Desire: Gender, Sexuality, and the Family in Nineteenth Century Europe : Literary and Artistic Perspectives
O Senhor Ganimedes é um romance sensacionalista, explosivo, que conta a história de uma viúva rica que casa com um amigo de infância que cresceu para se transformar num caçador de fortunas. Ele não consegue consumar o casamento e vem-se a descobrir mais tarde que é um homossexual que se transveste e que tem um amante masculino. No prefácio, o autor afirma que deseja prevenir as raparigas inocentes e as suas famílias contra os perigos do casamento com homossexuais mercenários, mas o enredo falha conspicuamente na validação da moral tradicional. O romance termina com a viúva encontrando finalmente satisfação sexual com o oficial do Exército que expôs o marido, que cai nos braços do seu amante exclamando «Enfim, livre e só teu!»”
- Robert Howes, em in Depicting Desire: Gender, Sexuality, and the Family in Nineteenth Century Europe : Literary and Artistic Perspectives
Foto: Biblioteca de Aljezur, aqui.
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ALFREDO GALLISJoaquim Alfredo Gallis (Lisboa, 1859 — Lisboa, 1910), mais conhecido por Alfredo Gallis, foi um jornalista e romancista, muito afamado nos anos finais do século XIX, que exerceu o cargo de escrivão da Corporação dos Pilotos da Barra e o de administrador do concelho do Barreiro (1901-1905). Como romancista conquistou grande popularidade, tendo escrito cerca de três dezenas de romances, alguns dos quais têm títulos sugestivos da sensualidade que os impregna, como Mulheres Perdidas, A Amante de Jesus ou O Marido Virgem. É autor dos dois volumes intitulados Um Reinado Trágico, apensos à História de Portugal, de Pinheiro Chagas, referentes ao reinado do rei D. Carlos I de Portugal.
Algumas obras do autor: Mulheres Perdidas, Sáficas, Mulheres Honestas (da série Tuberculose Social, 1901-04), A Amante de Jesus (1893), O Marido Virgem (1900), As Mártires da Virgindade (c. 1900), Devassidão de Pompeia (1909), O Abortador (1909), Um Reinado Trágico (1908-09), e outras. |