Retrato de Abel Botelho, em O Barão de Lavos, Porto, Livraria Chardron, 3.ª edição (1908) (fonte: Wikipédia, em domínio público)
Retrato de Abel Botelho (1889), por António Ramalho Júnior (Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado (fonte: Wikipédia, em domínio público)
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ABEL BOTELHOAbel Acácio de Almeida Botelho (Tabuaço, 23 de setembro de 1854 — Buenos Aires, 1917) foi um coronel de Estado-Maior do Exército, escritor, político e diplomata português. Representante em Portugal do realismo extremo, conhecido como Naturalismo, escreveu, entre outros, o O Barão de Lavos (1891) e O Livro de Alda (1898), ambos na série Patologia Social.
Abel Botelho frequentou o Colégio Militar, iniciando-se na carreira das armas como simples soldado raso no Exército, onde alcançaria a patente de coronel. Entre outras funções, exerceu a chefia do Estado-Maior da Primeira Divisão Militar (Lisboa). Pertenceu a várias agremiações (Academia das Ciências, Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses, de Lisboa e do Porto, Associação da Imprensa, Sociedade Geográfica de Lisboa, etc.), e foi como delegado da Sociedade Geográfica de Lisboa que esteve em São Paulo, em 1910, por ocasião de um congresso de Geografia. Em 1911, foi nomeado como ministro da República (embaixador) em Buenos Aires, cargo de grande importância uma vez que a Argentina foi o primeiro país a reconhecer a República Portuguesa após a instauração da república em 1910. A carreira literária de Abel Botelho começou em 1885, com um livro de versos intitulado Lira Insubmissa. Nos anos seguintes, lançou várias peças de teatro que, procurando temáticas escabrosas e fraturantes, tal como era exigido pelo Naturalismo, causaram grande agitação e polémica, especialmente Imaculável, cuja apresentação terminou com apupos dos espectadores, e Vencidos da Vida, que não continuou em cena por ser considerada imoral. Em 1891, Abel Botelho deu início à série de romances Patologia Social, com o objetivo de refletir sobre a sociedade portuguesa e os seus problemas sociais. O primeiro livro desta série, O Barão de Lavos (1891) é considerado como sendo o primeiro romance em português que toma para personagem principal um homossexual. Foi seguido por O Livro de Alda (1898), Amanhã (1901), Fatal Dilema (1907) e Próspero Fortuna (1910). Para além destes, Botelho deixou mais três romances: Sem Remédio... (1900), Os Lázaros (1904) e Amor Crioulo (incompleto e póstumo; anteriormente intitulado Idílio Triste; 1919) e o conto Mulheres da Beira. Colaborou também em várias publicações periódicas, nomeadamente nas revistas Brasil-Portugal (1899-1914), Serões (1901-1911), Azulejos (1907-1909) e Atlântida(1915-1920). Obra Lira Insubmissa (poesia, Porto: Livraria Civilização, 1885), Germano (teatro, Porto: Livraria Civilização, 1886), Claudina (teatro, 1890), O Barão de Lavos (romance, vol. I da série Patologia Social, Porto, Livraria Chardron, 1898), Os Vencidos da Vida (teatro, 1892), Parnaso (teatro, 1894), Jucunda (teatro, Lisboa: Revista Teatral, 1895), Mulheres da Beira (conto, 2.ª ed., Lisboa: Lusitana Editora, 1896), A Imaculável (teatro, 1897), O Livro de Alda (romance, vol. II da série Patologia Social, Porto: Lello & Irmão, 1898), Sem Remédio (romance, Porto: Livraria Chardron, 1900), Amanhã (romance, vol. III da série Patologia Social, Porto: Livraria Chardron, 1901), Fruta do Tempo (teatro, 1904), Os Lázaros (romance, Porto: Livraria Chardron, 1904), Fatal Dilema (romance, Porto: Livraria Chardron, 1907), Próspero Fortuna (romance, Porto: Livraria Chardron, 1910), Amor Crioulo (romance incompleto, Porto: Livraria Chardron, 1913, póstumo). |
COMENTÁRIOS DA CRÍTICA
Segundo Saraiva e Lopes, “Abel Botelho representa o ponto extremo até onde chegou entre nós a ficção naturalista da escola de Zola.” Fonte: A. J. Saraiva e Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa (Porto: Porto Editora, 17.ª edição)
Fernando Curopos considera que “a homofobia se torna numa arma de combate político e a homossexualidade passa a ser associada, pelos republicanos, a uma nobreza degenerada. Não é, portanto, de estranhar o sucesso de O Barão de Lavos, o primeiro romance da literatura canónica portuguesa a falar abertamente de homossexualidade masculina, publicado em 1891 por um republicano convicto, Abel Botelho.” Fonte: Fernando Curopos, “Introdução” (O Bispo de Beja e Afins, Lisboa: INDEX ebooks, 2021)
Fernando Curopos considera que “a homofobia se torna numa arma de combate político e a homossexualidade passa a ser associada, pelos republicanos, a uma nobreza degenerada. Não é, portanto, de estranhar o sucesso de O Barão de Lavos, o primeiro romance da literatura canónica portuguesa a falar abertamente de homossexualidade masculina, publicado em 1891 por um republicano convicto, Abel Botelho.” Fonte: Fernando Curopos, “Introdução” (O Bispo de Beja e Afins, Lisboa: INDEX ebooks, 2021)