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Clássicos de Literatura Gay
​20

O MARQUÊS dA BACALHOA

António de Albuquerque

Concluído em 1907, o romance a clef "O Marquês da Bacalhoa", da autoria de António de Albuquerque, seria publicado no ano seguinte sob a chancela da Imprimerie Liberté de Bruxelas, embora se pense que terá sido impresso numa pequena tipografia de Lisboa. O livro chegaria ao público numa época de grande tumulto da história portuguesa, pouco antes do regicídio e da implantação da república. Pelo retrato transparente que faz dos principais atores políticos deste período, de onde se destacam o rei D. Carlos (o Marquês da Bacalhoa), apresentado como o supremo lúbrico e hedonista, e o “ditador” João Franco, ambos em diálogo com o conservador e romântico Mouzinho de Albuquerque, o herói da pacificação de Moçambique depois da derrota do régulo Gungunhana, e sobretudo por utilizar explicitamente os rumores que corriam sobre o lesbianismo da rainha D. Amélia como argumento central do enredo, o livro causou enorme escândalo à época e foi proibido, o que estimulou ainda mais a curiosidade do público, que correu a comprá-lo clandestinamente, apesar do seu preço muito elevado, esgotando rapidamente os 6000 exemplares que terão sido impressos.
 
A Marquesa de Bacalhoa (a rainha D. Amélia) será, com efeito, uma das grandes protagonistas do romance, com a sua « predileção criminosa pelos amores sáficos», resultante da sua “educação num meio beato e dissoluto, viciado desde criança pelas amigas, ávidas amantes do seu corpo alvo e arredondado; o misticismo característico de todas as grandes invertidas», bem como, mais tarde, de um «casamento» que viria a «desiludi-la cruelmente do homem», do «sofrimento da gravidez, tendo o doloroso parto por epílogo» e de tudo «que desgosta a mulher do macho, a lança na prática das sensualidades mais requintadas, mais ardentes e menos perigosas.»
 
Contudo, não deveremos ler “O Marquês da Bacalhoa” apenas à luz do escândalo panfletário que despertou. Uma leitura contemporânea do romance permite-nos compreender melhor as dinâmicas políticas e sociais de um período importante da história portuguesa, lançando um olhar crítico sobre as debilidades e vacuidade da família real, da aristocracia portuguesa e dos clérigos católicos, bem como sobre as instituições, os políticos e os jornalistas portugueses, tanto monárquicos como republicanos. Nestes círculos sociais e políticos, a homofobia e a misoginia imperam, e são utilizados como arma para denegrir e ridicularizar, com vista a reprimir e dominar. Curiosamente, numa perspetiva diametralmente oposta, ao contrário de consubstanciar a violência e o caos, o anarquismo, que a persona do autor defende apaixonadamente, é apresentado como a única ideologia que pode conduzir à completa liberdade individual e à verdadeira fraternidade: “Desvenda-lhe [ao povo] as belezas da natureza, impõe-lhe primeiro que tudo o amor pelo belo, para assim ele abranger depois o do próximo; inspira-lhe o desprezo e o rancor por tudo quanto é falso e foi apenas criação do egoísmo: — ídolos, leis, religiões, justiças e castigos. Despedaçando-lhe as peias dos preconceitos, depressa fitarão sem receio a luz da verdade e poderão largamente compreender a única e suprema felicidade da vida, a alegria de saber perdoar e fazer bem.”
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EXCERTOS

 
Sobre o Silveirinha (Eduardo Burnay): 
«É como o teu Silveirinha, a quem atribuem mil vícios; dizem só gostar de homens e entretanto não o largas.»
 (...)
«Muito inteligente, riquíssimo, sem sombra de hipocrisia a mascarar‑lhe os vícios, natureza artística e sensível, todas as mulheres lhe eram familiares, precisas e igualmente indiferentes. Apreciava‑as como bibelots, desdenhando‑as para o vício. Sentia porém uma preferência especial, uma sensualidade estranha, pela magreza falsa de Raquel, por essa compleição de efebo igual à sua, e sobretudo pelo vicioso do seu temperamento.
Fora ela a primeira e única amante para quem abria prodigamente a bolsa e dispensara alguma voluptuosidade.
Fora dela, só apreciava os homens.»

Sobre o barão de Vila Flor (o marquês de Vale Flor):
«O riquíssimo barão de Vila Flor, continuando o seu mister de negreiro moderno em África e centuplicando o pecúlio deixado outrora pela afeição viciosa do pederasta que o acolhera descalço, da borda do porão de um navio arribado à ilha tropical. Fora uma série sucessiva de fraudes coniventes com tabeliães, curadores de serviçais, balizas de propriedades mudadas pelas noites; escrituras de vendas com demarcações erradas em benefício do comprador, gananciosas negociatas de escravatura no longo da costa ocidental de África, numa palavra, toda a casta de roubos praticáveis ao abrigo de um código elástico e convencional.
E assim se transformara em barão, fidalgo da corte, árbitro da bolsa e de todas as operações financeiras do país, o antigo marçano do Esteves, por este acariciado lubricamente nas horas da sesta ardente.»

Sobre a Marquesa (a rainha D. Amélia):
«Não afirmavam igualmente a sua predileção criminosa pelos amores sáficos, apontando até a Freixiosa como a paixão dominante da sua vida!... E tudo isto era apoiado por argumentos irrefutáveis. A sua educação num meio beato e dissoluto, viciado desde criança pelas amigas, ávidas amantes do seu corpo alvo e arredondado; o misticismo característico de todas as grandes invertidas. Depois, viera o casamento mais tarde a desiludi-la cruelmente do homem, o sofrimento da gravidez, tendo o doloroso parto por epílogo, tudo enfim que desgosta a mulher do macho, a lança na prática das sensualidades mais requintadas, mais ardentes e menos perigosas.»

Sobre o Sarzedas (Silva Graça, diretor do O Século) e o Domingos (Luís Judicibus, jornalista de O Século):
«
O Sarzedas chamara o Domingos ao gabinete, cuja porta se fechara sobre eles com estrondo.
— Então meu pobre Domingos, apanhaste para teu tabaco,  hein? A fisionomia do Sarzedas mudara de expressão, de dura tornara-se meiga, e no seu olhar inteligente parecia brilhar uma carícia voluptuosa de sodomita.
À sua fragilidade doentia, e ao histerismo mórbido dominador do seu temperamento de invertido, a possante robustez de Domingos inspirara, desde o primeiro dia, um atrativo poderoso e irresistível.
— Consola-te meu velho; são ossos do ofício que eu saberei recompensar como amigo. E magoou-te muito? Magoou-te?
— Mas tu não viste ? — Os dois na intimidade davam-se tu. — 
— Vi, sim, mas mal. Espreitei por ali; indicou a fechadura. O diabo do coronel parecia doido. Bem fiz eu em não aparecer.
— Rachava-te, meu velho. À espada daquele desalmado só um corpo como o meu poderia resistir. Olha para os vergões com que fiquei no braço.
O Sarzedas acariciou-lhos com ternura.
— Pobre Domingos! atirou-lhe um abraço e beijou-o ruidosamente na bigodeira.
O Vassouras, com um sorriso de bruto, deixava-se acariciar, indiferente.
— Toma pela tareia, tornou o Sarzedas, após a sua efusão voluptuosa, estendendo-lhe uma nota de cinquenta mil réis, — isto é pela tareia. Agora vai lá para dentro e obriga esses idiotas a concluir o jornal, anda raspa-te...
O Domingos retirou-se, e o Sarzedas continuou escrevendo, com o rosto ainda iluminado por um sorriso de sátiro invertido.»

Sobre a moralidade da sociedade (num baile de máscaras do S. Carlos):
«Conheciam na maioria a toda essa gente frequentadora da ópera e sempre a mesma; estranha amálgama de tipos os mais curiosos e contraditórios, desde a grande mundana, pagando aos amantes sem pudor, da simples adúltera, da histérica, entregando‑se irresponsavelmente, por temperamento, até  aquelas cujo prazer consiste num fervoroso culto à lasciva Lésbia. Estas, sobretudo, representavam certamente a maioria. A honestidade aparecia raramente nesse lugar; algumas fugitivas virgens ou idosas provincianas, ricas de preconceitos e fanatismo. Todos estes vícios eram conhecidos e perdoados sob condição expressa da existência de um marido, de um título ou de uma fortuna sólida. Era assim a moral moderna.»

Sobre o jornalismo da época:
«Nada de mais banal e insignificante do que esse fumarento recinto onde se criavam reputações, se caluniava, mentia, difamava, tudo ao sopro ditatorial do doentio e epilético diretor da gazeta, — o Sarzedas e Silva,— aproveitando todos os assuntos, políticos ou íntimos, em seu benefício particular. Ninguém dentro daquela casa podia ter opinião, carácter, talento ou sinceridade. Tudo ele dirigia, inspirava, discutia e farejava. Tão depressa era governo como oposição, monárquico, republicano, religioso ou livre pensador.
O fim único era o interesse, o aumento de exemplares e a banal consideração do vulgo. Invisível nos momentos críticos, tinha acólitos, testas-de-ferro e caceteiros, prontos sempre a apoiarem e defenderem as sórdidas ignomínias forjadas à sua inspiração, pelos pseudoredatores, numa prosa equívoca, desbragada e grosseira.
O jornal fizera-o a chantage, e presentemente o público, ávido de escândalo e ignorante dos processos habituais do jornalismo, protegera a sua enorme tiragem.»

Sobre as sessões parlamentares:
Depois de descrever «todo o imenso ridículo da sessão [parlamentar] memorável a que vinham de assistir», em que o primeiro-ministro é interpelado sobre a greve académica: «Percebia-se uma decidida hostilidade contra o governo, a par de um grosseiro indiferentismo por todos os negócios do país. Vinham ali como a uma toirada, para rirem, divertir-se durante algumas horas. O espetáculo era gratuito e por vezes interessante.»

Sobre o anarquismo:
«Nessa nova pátria, imensa e sábia, apenas reinará a paz e a bondade. Nela, serão suprimidas as penitenciárias, as catedrais, os quartéis, os parlamentos e os tribunais, por inúteis e apócrifos. Afundar-se-ão no pó do esquecimento todas essas espectrais relíquias do velho mundo. O grande dogma da nova religião constará de duas palavras apenas: «Dever e Caridade» e o culto entranhado das novas gerações será somente o amor do belo na sua mais ampla significação. A família convencional desaparecerá igualmente, substituída pela só aceitável e única, a universal, e, com ela, a herança, inexplicável e perigosa. O amor será livre, como livres serão todos os misteres e afeições, por isso mesmo mais sólidas, sinceras e perduráveis. As crianças pertencerão à comuna, livres e iguais na educação e na família. Eis o ideal para o qual temos de caminhar com confiança.»
(...)
«Desvenda‑lhe as belezas da natureza, impõe‑lhe primeiro que tudo o amor pelo belo, para assim ele abranger depois o do próximo; inspira‑lhe o desprezo e o rancor por tudo quanto é falso e foi apenas criação do egoísmo: — ídolos, leis, religiões, justiças e castigos. Despedaçando‑lhe as peias dos preconceitos, depressa fitarão sem receio a luz da verdade e poderão largamente compreender a única e suprema felicidade da vida, alegria de saber perdoar e fazer bem.»
(...)
«o ideal sublime da emancipação do homem: — o individualismo absoluto, sem restrições, — pois lembra‑te que o elevar até nós,— civilizados do futuro, — a todos esses infelizes cegos pela ignorância e produtos irresponsáveis de um despotismo de séculos, cruel e criminoso, em que o terror, o fanatismo e o direito da força a tudo dominavam, é a nossa mais cara missão e o caminho mais curto que conduz à nossa bela utopia ou superior religião. Livros e poemas são armas de combate mil vezes mais enérgicos que a dinamite e o punhal, acreditem.»



SOBRE O AUTOR

ANTÓNIO DE ALBUQUERQUE

António de Albuquerque nasceu em 1866, em Viseu, no seio de uma das famílias mais aristocráticas de Portugal. Publicou alguma poesia e romance, bem como um volume de investigação histórica. ​"O Marquês da Bacalhoa" (1908) foi o seu maior sucesso, mas gerou enorme controvérsia pela abordagem crítica sobre a família real e o lesbianismo da rainha D. Amélia. Em 1923, antes de morrer, Albuquerque converte-se ao catolicismo, lamentando o que escrevera e pedindo o perdão da rainha D. Amélia
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FICHA TÉCNICA

O Marquês da Bacalhoa, de António de Albuquerque. 

1ª edição, 2023, Revisão e notas: João Máximo, Luís Chainho e Patrícia Relvas.
Copyright © João, Máximo e Luís Chainho, 2023.
260 páginas.
Todos os direitos reservados.

ISBN: 979-8215124741​ (ebook)
ISBN:  979-8871350713 (papel capa mole)
ISBN:  979-8871395226 (papel capa dura)

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