Capa por Murilo Guerra
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De Braços Abertos
Fabiula BortolozzoContado na primeira pessoa, este novo romance de Fabiula Bortolozzo é um livro muito intimista, em que a autora entrelaça admiravelmente pequenas histórias de amores e desamores, de crescimento e de descoberta da sexualidade, da saída do armário e do aparecimento da SIDA, dos costumes conservadores da sociedade brasileira e dos eventos políticos determinantes da segunda metade do século XX, dos livros e dos escritores que influenciaram a narradora, bem como da música e dos músicos que faziam furor à época, e do misticismo e sobrenatural, tudo no cenário da cidade de Curitiba e de diversos locais paranaenses muito especiais.
A narradora, que virá a ser escritora, tal como a autora, é uma jovem curiosa, que está a descobrir a vida e a sua sexualidade; é tranquila e tolerante, mas determinada, não permitindo que ninguém lhe diga o que deve fazer. A Bia, a outra personagem principal e maior amiga da narradora, é uma jovem muito feminina, mas que, apesar de parecer também muito determinada, se deixa prender em situações que a sufocam e das quais não consegue libertar-se. As duas seguirão um percurso que as levará a refletir sobre a passagem do tempo, o esgotamento da memória, a doce beleza da juventude e a tranquilidade de estar bem com o passado. |
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EXCERTO
Eu fiquei calada, prestando mais atenção na Adri do que na conversa. Ela não era bonita, era no máximo bonitinha, bem mais baixa do que eu, e tinha uns olhos escuros que se escondiam numa mistura de malícia e apreensão. No entanto, nem sei por quê, ela me deixava fascinada, e eu sabia que não resistiria por muito tempo.
Ela falava e me olhava, a princípio pensei que ela esperasse por alguma participação minha na conversa, porém conforme o tempo foi passando e as músicas tocando, notei que ela não queria nenhuma palavra minha, queria-me a mim, seu olhar me engolia. Quando começou a tocar Bizarre Love Triangle do New Order, Carlos se animou e nos chamou para dançar, mas, como ninguém manifestou nenhum desejo de ir, ele foi só, nos deixando na mesa. Ela se debruçou sobre a mesa para que eu a ouvisse e perguntou se eu podia acompanhá-la ao banheiro. Levantei-me e, depois de esbarrarmos em uma infinidade de gente e dobrarmos à direita do bar, chegamos a um corredor onde ficavam dois banheiros e um depósito. Como havia muito mais mulheres do que homens no lugar, as garotas usavam tanto o banheiro destinado ao público feminino quanto ao masculino. Esperamos poucos minutos e entramos. Era um banheiro grande, como o das casas antigas, com azulejos de cor azul e uma banheira coberta com uma tampa de madeira, a qual podia fazer as vezes de um banco. Nós duas sabíamos que não estávamos ali para fazer xixi ou lavar as mãos, muito menos para cheirar uma carreira. Por isso, quando entramos, ela não perdeu tempo, esperou que eu me sentasse no tampo da banheira e veio até mim. |
Passou os braços em volta do meu pescoço e senti seus dedos acariciando minha nuca. Beijou minha testa, meus olhos, meu nariz, e quando chegou a minha boca e senti ela deitar sua língua na minha, minhas pernas tremeram de uma forma que eu nunca havia sentido, acho que ela percebeu, pois desceu as mãos pelas minhas costas e me segurou, colando seu corpo ao meu. Instintivamente, minha mão parou em seu seio, e ela a tirou de lá, o que me surpreendeu. Talvez houvesse algum código de conduta lésbica que eu não soubesse, ou talvez eu estivesse agindo como um garoto de colégio, pondo logo a mão onde ainda não era permitido.
Mesmo depois desse desacerto, ela não parou de me beijar, me mordia como se quisesse arrancar minha boca, e assim foi até que ouvimos alguém esmurrando a porta. “Tem uma fila esperando para usar o banheiro.” Gritou uma voz que parecia um trovão. Saímos sem olhar para ninguém. Quando chegamos à mesa, Carlos estava sentado nos esperando e conversando com um rapaz. Ela disse que tinha de ir embora e me levaria a casa, se Carlos quisesse ficar mais. Não trocamos nenhuma palavra durante o trajeto até minha casa, que não era assim tão longo. Nos despedimos, cordialmente, sem beijos na boca, nem outras intimidades. Quando entrei em casa e fui tomar banho para tirar o cheiro de cigarro do corpo, o único cheiro que não saía de mim era o do perfume dela. |
Fabiula BortolozzoFabiula Bortolozzo nasceu em 1970, em uma casa em que se lia, no máximo, o jornal de domingo. Sua adoração pelos livros e pela leitura fez com que, quando criança, preferisse se trancar na biblioteca da escola do que brincar com as outras crianças. Sua carreira de bookaholic fez com que as palavras sempre a ultrapassassem, até que optou por contorná-las e colocá-las na tela em branco. Foi selecionada para a oficina de criação de perfis da FLIP (Feira Literária de Parati) de 2010 e para a oficina de escrita com o escritor Luis Ruffato, em 2011. Vive em Curitiba com seus cães.
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FICHA TÉCNICADe Braços Abertos, de Fabiula Bortolozzo
Capa: Murilo Guerra (ver portfolio) Edição e revisão: João Máximo, Luís Chainho e Patrícia Relvas 1ª edição, 2019, © Copyright de João Máximo e Luís Chainho, 2019, Todos os direitos reservados. 132 págs. ISBN: 978-989-8575-94-4 (ebook) ISBN: 978-1692017088 (papel) |
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