AYMMAR RODRIGUÉZAymmar Rodriguéz surgiu nos idos da década de 1980, tão logo eu encerrava minha curta participação no Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco – o maior movimento literário do final do século 20, em Recife. Quando eu “recebi” um texto chamado Inclusive cenouras – encenado no Bar Abraxas, em Olinda – eu pensei: tem coelho nessa moita. Ou melhor: tem algo estranho aí. O estilo ácido e debochado de Aymmar Rodriguéz veio numa grande avalanche, canalizada principalmente por happenings nos bares olindenses – não me perguntem detalhes, acho que determinados excessos foram sumariamente deletados da minha mente – e na coluna de Paulo Azevedo Chaves, que então assinava no jornal Diário de Pernambuco, um concorrido e importante espaço de divulgação de artistas plásticos e escritores, do Recife e outras cidades. Mas pelos palavrões e pela temática usualmente homoerótica, muitos dos poemas foram censurados pela editoria do jornal. Vieram a público os textos mais palatáveis e menos polémicos. Assim como surgiu, Aymmar aparentemente eclipsou-se. Alguns anos mais tarde fui morar fora do país, e este poeta nunca mais deu o ar da sua graça. Foram mais de 10 anos sem escrever uma linha sequer.
- Raimundo de Moraes |
AYMMAR NA INDEX
SALIVANDO

O estranho disso tudo é Aymmar Rodriguéz retornar com uns escritos ainda mais debochados e alguns sinceramente nojentos. Ao voltar para Recife, surgiram mais uns três ou quatro poemas. Em outubro de 2009, eu tinha algo que poderia ser transformado num pequeno livro. Mas as perguntas em minha cabeça: se eu até aquele momento nunca quis publicar um livro solo, por que agora esta ideia fixa? E que nome dar a tudo aquilo?
Então junto com Cida Pedrosa fui para Arcoverde, Sertão de Pernambuco, ministrar uma oficina literária. Num dos dias, um grupo de Recife fez uma homenagem a Erickson Luna. Na hora, lembrei do poema baba de moço, que em poucas linhas costura a biografia de Aymmar Rodriguéz com o livro Do Moço e do Bêbado, de Luna. Naquele momento, os textos que emergiram em Paraty ganhavam definitivamente um formato, um propósito e um título geral.
Depois veio um certo temor: quem teria coragem de publicar Baba de Moço? E o título não seria ridículo, para um poeta de meia-idade como eu? De moço não tenho mais nada, em breve estarei na ala geriátrica. Mas depois lembrei-me que, assim como os personagens (literários, cinematográficos, teatrais) os heterónimos não envelhecem. Aymmar Rodriguéz é um moço, sim. Não estagnou em sua escrita e nas noites frias à beira do Perequê ressurgiu falando de internet, pen drive, prozac e funk. Continuando anárquico, mas antenado aos brilhos e às mazelas da modernidade.
- Raimundo de Moraes
Então junto com Cida Pedrosa fui para Arcoverde, Sertão de Pernambuco, ministrar uma oficina literária. Num dos dias, um grupo de Recife fez uma homenagem a Erickson Luna. Na hora, lembrei do poema baba de moço, que em poucas linhas costura a biografia de Aymmar Rodriguéz com o livro Do Moço e do Bêbado, de Luna. Naquele momento, os textos que emergiram em Paraty ganhavam definitivamente um formato, um propósito e um título geral.
Depois veio um certo temor: quem teria coragem de publicar Baba de Moço? E o título não seria ridículo, para um poeta de meia-idade como eu? De moço não tenho mais nada, em breve estarei na ala geriátrica. Mas depois lembrei-me que, assim como os personagens (literários, cinematográficos, teatrais) os heterónimos não envelhecem. Aymmar Rodriguéz é um moço, sim. Não estagnou em sua escrita e nas noites frias à beira do Perequê ressurgiu falando de internet, pen drive, prozac e funk. Continuando anárquico, mas antenado aos brilhos e às mazelas da modernidade.
- Raimundo de Moraes