Bella Donna
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EXCERTO
A cela de Antonia era uma réplica reduzida da casa que deixara ao entrar para São Bernardo, decorada com algumas peças impensáveis em conventos vulgares, mas não em conventos venezianos do século XV, nos quais havia tolerância quanto aos costumes trazidos de fora pelas freiras oriundas da nobreza.
Sem dar por si, Elena largou os baús e tocou uma das esculturas, era o corpo mais perfeito que já vira. “É uma cópia de uma escultura grega,” disse a voz atrás dela. Estremeceu e retirou os dedos da estátua. Virou-se, com os olhos baixos. “Desculpe senhora, nunca havia visto nada assim, por aqui só temos imagens de santos.” “Eu sei. Espero não tê-la chocado.” Antonia sentara-se. “Não é necessário que conversemos em pé, sente-se. Qual é o seu nome?” Elena corou e tomou assento na ponta de uma cadeira. “Elena Raspi, senhora.” |
“Eu a vi observando os livros que estão naquela caixa. Você sabe ler?”
“Apenas o suficiente para ler o livro de orações.” Ao pronunciar essas palavras, sentiu-se profundamente embaraçada. Mesmo sendo uma condição comum à maioria feminina da população e, principalmente, entre os que vinham do seu meio social, não saber ler direito, para ela, era como um aleijão, uma deformidade com poucas chances de conserto. Antonia observava-a sem disfarces e percebeu que ali havia um ser humano com fome de tudo. Elena não lhe soava apenas como uma freira conversa que poderia lhe servir de criada pessoal. “Elena, você deve saber que vou requisitar alguém que me auxilie algumas horas por dia. Gostaria de saber da sua disponibilidade e se poderia contar com você ?” (...) “Como for do seu desejo, senhora.” Elena não estava habituada com este tipo de tratamento, Antonia lhe dera em vinte minutos o que nunca haviam dado em dez anos de convento: atenção e respeito. Aquela mulher era diferente, não aparentava vaidade por sua posição e origem, mesmo depois da sua entrada no convento. |
Fabiula BortolozzoFabiula Bortolozzo nasceu em 1970, em uma casa em que se lia, no máximo, o jornal de domingo. Sua adoração pelos livros e pela leitura fez com que, quando criança, preferisse se trancar na biblioteca da escola do que brincar com as outras crianças. Sua carreira de bookaholic fez com que as palavras sempre a ultrapassassem, até que optou por contorná-las e colocá-las na tela em branco. Foi selecionada para a oficina de criação de perfis da FLIP (Feira Literária de Parati) de 2010 e para a oficina de escrita com o escritor Luis Ruffato, em 2011. Vive em Curitiba com seus cães.
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