Respiração boca-a-Boca
Romance-poema de poliamor
Flor de Maria d'Alma e Saudade
Um original livro de poesia, um romance erótico e dramático em verso sobre poliamor, com versos de uma grande musicalidade e fluência, servidos por um vocabulário riquíssimo e belas imagens poéticas. A autora consegue, brilhantemente, evocar e homenagear os clássicos, com pompa e sofisticação, exclamações e invocações, perguntas retóricas e belíssimas metáforas.
O romance-poema desenrola-se em terras distantes e perdidas, numa época indeterminada. Numa madrugada nevoenta de outono, Beatriz, Roxana e Mariela, amantes e esposas de Lúcar, esperam sequiosas o regresso iminente do seu amado. A chegada de Lúcar é celebrada orgiasticamente pelos quatro, mas Lúcar descobre-se apaixonado pelo Arcanjo, e o desfecho dramático antecipa-se nas palavras proféticas do narrador “Ó Cérbero, abriste o portal da pedra / No qual a desilusão violeta medra. […] Os rios da alma foram abandonados; / Abandonadas foram as almas pias / E mais os ventos e as manhãs e os dias / E todo o céu violento e convulsionado.” |
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EXCERTO
Reunião Secreta dos Amantes (Um Canto de Lúcar) As três mulheres de vermelho Entregam-se, fremindo entre espelhos. Depois se entrevam, as liras tristes... Beatriz, tudo que no céu existe É o meu amor, infinito ardor – Dos rios, sou o pálido estertor: Lúcar de Beatriz, cão de Mariela Netuno das águas bravas delas Cisne álgido da calma dor. Roxana, nau amanteigada, Doçura, rosa negra, açucena; Chama dolosa, delicada – Ah, amorosas deusas plenas! Morrer nestes olhos, queridas Sepultar-me nos vossos abraços! Levar da espuma desta vida Do nosso amor os sacros laços. Avança a noite de alabastro Sobre minha alma de menino: Os céus repicam os tristes sinos E os amores fulgem, e os astros. Tão triste a Beatriz de Mariela: Uma onda se soerguendo fria Planície branca, luzidia, Górgone de cripta pia Loucura convulsiva à capela. (Afoga-me, Arcanjo, eu te amo! Que mais querem elas? Ah, que loucuras? Tua chama é tempestade, bravura Uma adoração que eu reclamo – Não ao beijo nas carnes feminis impuras... Aonde os altares dos nossos amores? Quais espectros ali agonizam? Onde os anjos fluidos deslizam Para enlaçar-nos em suaves olores!) |
Ato Homossexual
Izabella Zanchi, 2003 foto: Decio Romano Noivas, sois trágicas! Espectrais viúvas
Carnais e mortíferas, peles ácidas De um espinheiro de garras cálidas E venenos de gozos e vulvas. Tu és precipício, Roxana; tua boca É flor carnívora que se abre sangrenta No meu sexo, em asfixia lenta, Numa cópula infernal e louca. Sou um bebê morto nos teus braços E a face do mal me devora – Ai Beatriz, sou dos teus abraços A agonia fatal de uma aurora! Amo-te até à morte, Beatriz, Para sempre te amo, Mariela. Deusas de um destino infeliz – Famintas, estranhas, singelas Chupam meus ossos e me esquecem Sangram-me os órgãos e desaparecem. O céu é conhecimento breve – Lápis-lazuli, pão de mel, flor-de-lis Roxana: semente castanha A Mariela, alva e casta neve Ventos agudos, a Beatriz! Lúcar e o Arcanjo, zênite e nadir – Espelhos que refluem até o mar se exaurir |
Izabella Zanchi
foto: João Debs |
Flor de Maria d'Alma e SaudadeFlor de Maria d’Alma e Saudade é o pseudónimo poético da escritora e artista brasileira Izabella Zanchi.
Nascida em dezembro de 1956, vive e trabalha em Curitiba. Atuou como atriz, dramaturga e diretora de teatro, migrando nos anos 1980 para a área das Artes Visuais (artista, curadora, gravadora e orientadora em oficinas de gravura, desenho e pintura), sendo criadora da Técnica Zanchi do Sudário. Seus trabalhos foram expostos em diversas mostras (nacionais e internacionais), integrando acervos como o do Weisman Art Museum. |