Clássicos de Literatura Gay
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O BOM CRIOULOadolfo CaminhaAmaro, um imponente e lúbrico marinheiro negro, escravo fugido de uma fazenda do interior do Rio de Janeiro, apaixona-se por Aleixo, um jovem e ingénuo grumete branco, que conhece no seu navio de guerra. Mas o destino separa-os e, quando Amaro finalmente reencontra Aleixo, as suas piores suspeitas confirmam-se.
O Bom Crioulo causou escândalo devido à frontalidade e ao erotismo, pouco usuais para a época (1895) com que aborda temas tabu, como o sexo inter-racial e a homossexualidade em ambiente militar. Nesta edição, fez-se uma revisão da ortografia utilizada na versão gentilmente cedida pelo Ministério da Educação do Brasil, à qual se acrescentaram anotações para enquadramento dos leitores contemporâneos. |
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INTRODUÇÃO
O Bom Crioulo é considerado um dos expoentes da vertente naturalista do realismo brasileiro, que se caracterizou por opor ao sentimentalismo exagerado do romantismo os impulsos biológicos e sociológicos que condicionam a natureza humana, propondo-se descrever a vida tal como ela é. Aos personagens e cenários idealizados do romantismo, em que belas donzelas morrem de amores pelos seus bravos príncipes em ambientes idílicos, responde o realismo naturalista com as fortes pulsões biológicas humanas, como a fome e o sexo, oferecendo-nos retratos vivos em que não surgem disfarçadas as mazelas da realidade, por vezes miserável, cruel e abjeta.
Em O Bom Crioulo, Adolfo Caminha escolhe para personagem principal Amaro, um imponente e lúbrico marinheiro negro, escravo fugido de uma fazenda, que se apaixona por Aleixo, um jovem e ingénuo grumete branco do seu navio de guerra. Para além de ter sido uma das primeiras obras literárias brasileiras a apresentar um negro como personagem principal, foi a primeira a ousar escolher como tema principal a homossexualidade. Robert Howes refere mesmo que O Bom Crioulo (1895), de Adolfo Caminha, em conjunto com O Barão de Lavos, de Abel Botelho, e O Senhor Ganimedes (1906), de Alfredo Gallis, “são das primeiras obras literárias modernas numa língua europeia a tratar abertamente o tema da homossexualidade masculina. (…) Em contraste com o tratamento encoberto dos romances ingleses da época, os romances portugueses eram bastante mais abertos no retrato que faziam do sexo e da sexualidade”. Mas o livro de Adolfo Caminha destaca-se ainda por outro motivo, é o único dos três citados que é quase acrítico em relação à homossexualidade. Enquanto o barão de Abel Botelho é um pederasta que desencaminha rapazes jovens e inocentes para seu prazer sensual, e Alfredo Gallis apresenta o seu livro como um alerta às raparigas casadoiras, para que se previnam de ligações a homens que as desonrarão com os seus vícios, e aos pais, para que não aceitem para os seus filhos uma educação “errada e maricas”, contrapõe Caminha uma narrativa surpreendentemente livre de moralismos exagerados e de homofobia.
Em O Bom Crioulo, Adolfo Caminha escolhe para personagem principal Amaro, um imponente e lúbrico marinheiro negro, escravo fugido de uma fazenda, que se apaixona por Aleixo, um jovem e ingénuo grumete branco do seu navio de guerra. Para além de ter sido uma das primeiras obras literárias brasileiras a apresentar um negro como personagem principal, foi a primeira a ousar escolher como tema principal a homossexualidade. Robert Howes refere mesmo que O Bom Crioulo (1895), de Adolfo Caminha, em conjunto com O Barão de Lavos, de Abel Botelho, e O Senhor Ganimedes (1906), de Alfredo Gallis, “são das primeiras obras literárias modernas numa língua europeia a tratar abertamente o tema da homossexualidade masculina. (…) Em contraste com o tratamento encoberto dos romances ingleses da época, os romances portugueses eram bastante mais abertos no retrato que faziam do sexo e da sexualidade”. Mas o livro de Adolfo Caminha destaca-se ainda por outro motivo, é o único dos três citados que é quase acrítico em relação à homossexualidade. Enquanto o barão de Abel Botelho é um pederasta que desencaminha rapazes jovens e inocentes para seu prazer sensual, e Alfredo Gallis apresenta o seu livro como um alerta às raparigas casadoiras, para que se previnam de ligações a homens que as desonrarão com os seus vícios, e aos pais, para que não aceitem para os seus filhos uma educação “errada e maricas”, contrapõe Caminha uma narrativa surpreendentemente livre de moralismos exagerados e de homofobia.
RECEÇÃO CRÍTICA
O Bom Crioulo foi recebido com escândalo pela crítica literária e com o silêncio do público, devido à ousadia de abordagem de temas tabu, como o sexo inter-racial e a homossexualidade em ambiente militar, com uma frontalidade e erotismo pouco usuais para a época. O romance foi esquecido na primeira metade do século XX mas voltaria a ser publicado na segunda metade do mesmo século, tendo posteriormente sido traduzido para o inglês, espanhol, alemão, francês e italiano. Atualmente, faz parte do programa de leituras do exame vestibular de muitas universidades brasileiras.
ADOLFO CAMINHAAdolfo Ferreira dos Santos Caminha, nasce em Aracati, no dia 29 de maio de 1867, mas muda-se com a família para o Rio de Janeiro, ainda na infância. Com 16 anos, entra para a Marinha de Guerra e, cinco anos mais tarde, vai viver para Fortaleza onde se apaixona por Isabel de Paula Barros, a esposa de um alferes, que abandona o marido para viver com Caminha. Na sequência do escândalo, vê-se obrigado a deixar a Marinha e passa a trabalhar como funcionário público. Morre de tuberculose, prematuramente, no Rio de Janeiro, no dia 1 de janeiro de 1897, aos 29 anos.
Obras do autor: Voos incertos (1886), A Normalista (1893), No País dos Ianques (1894), O Bom Crioulo (1895) e Tentação (1896). |
FICHA TÉCNICAO Bom Crioulo, de Adolfo Caminha.
Nova edição integral, revista e anotada. Edição INDEX ebooks, 2015, revisão de João Máximo, Luís Chainho e Patrícia Relvas. Copyright © 2015, João Máximo e Luís Chainho, Todos os direitos reservados. Fonte do texto: Portal Domínio Público do Ministério de Estado da Educação (Brasil). ISBN: 978-989-8575-59-3 (ebook) ISBN: 978-1507653197 (papel) |
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