O xogum Yoshimasa, um antigo governador do Japão, tinha, para além de uma paixão pela generalidade das artes e prazeres delicados, um carinho especial pelo incenso. Reunira uma coleção de variados incensos provenientes de árvores de todas as províncias do Japão e o seu olfato era tão apurado que conseguia apreciar as mais subtis variações dos seus aromas.
Numa fria noite de outono, sentou-se a conversar com os seus amigos sobre o seu estimado incenso. A noite chegava e uma brisa entrou inesperadamente no aposento, carregando um aroma suave e delicioso. Nem ele nem os amigos tinham alguma vez sentido tão delicado perfume. Ordenou a um dos seus servidores que procurasse no palácio a sua origem; mas não foi possível encontrá-la. Então, enviou o seu favorito, Toshikiyo Tambanokami, para que descobrisse onde queimavam tal incenso e ele partiu imediatamente com os seus dois criados.
O cheiro era muito débil, mas, depois de atravessarem os prados das margens do rio Kamo, acentuou-se. Flutuava, vindo da outra margem, pelo que Toshikiyo cruzou o rio por um vau.
Era a noite do sexto dia de novembro e estava escuro pois não havia lua. Cruzaram o rio à pálida luz das estrelas que brilhavam bem altas no céu. Na outra margem, encontraram um homem sentado sobre uma rocha, vestindo um capote de palha e um chapéu de vime. Nas suas mãos estava um incensário. Tinha um ar de paz e serenidade.
Toshikiyo perguntou-lhe:
“Prezado forasteiro, por que razão estás sozinho num lugar como este a uma hora tão tardia?”
E enquanto falava, sentiu o perfume que se elevava do incensário do forasteiro.
O outro respondeu:
“Estou a ouvir o canto das tarambolas do rio Kamo.”
Toshikiyo ficou impressionado pela resposta… para apreciar o canto das tarambolas do rio em tão escura e fria noite, o homem tinha de ser finamente educado e não podia ter origens modestas.
Disse-lhe, agora mais polidamente:
“Desculpai a minha curiosidade, mas o meu senhor, o xogum Yoshimasa, ordenou-me que encontrasse o homem que espalha tão doce perfume. Quem sois, forasteiro?“
O homem respondeu:
“Não sou um sacerdote que tenha renunciado aos assuntos mundanos pelo amor de Buda. Nem sou um homem vulgar. Tomai-me, antes, por um viajante sem lugar onde repousar a cabeça. Tenho mais de sessenta e seis anos de idade, mas as minhas pernas ainda são firmes e posso caminhar sem dificuldade.”
E levantou-se e dirigiu-se aos pinheiros das margens do rio.
Era uma resposta simples, mas cheia de mistério. A surpresa de Toshikiyo aumentou; deteve o estranho e perguntou-lhe:
“Rogo-vos que me digais o nome deste incenso. O meu senhor Yoshimasa gostaria de o saber.”
O homem respondeu:
“Estais assim tão ansioso por saber algo tão insignificante? Se o vosso senhor é tão apaixonado por incenso, levai-lhe este, embora já não reste muito.”
E, dando-lhe o incenso e o incensário, afastou-se rapidamente.
Toshikiyo regressou com o incenso e o incensário, e contou ao seu senhor Yoshimasa todos os detalhes da conversa com o estranho ancião. O xogum ficou muito intrigado com o refinamento do forasteiro e ordenou que o procurassem por toda a Quioto; mas nenhum vestígio do ancião foi encontrado. O xogum ficou contrariado, mas guardou o seu presente com o maior cuidado. Chamou ao incenso “Tarambola” e a invulgar história logo se espalhou entre os seus servidores.
(continua)
Mais informações sobre Amor entre Samurais.
Foto: fonte Wikipedia
Numa fria noite de outono, sentou-se a conversar com os seus amigos sobre o seu estimado incenso. A noite chegava e uma brisa entrou inesperadamente no aposento, carregando um aroma suave e delicioso. Nem ele nem os amigos tinham alguma vez sentido tão delicado perfume. Ordenou a um dos seus servidores que procurasse no palácio a sua origem; mas não foi possível encontrá-la. Então, enviou o seu favorito, Toshikiyo Tambanokami, para que descobrisse onde queimavam tal incenso e ele partiu imediatamente com os seus dois criados.
O cheiro era muito débil, mas, depois de atravessarem os prados das margens do rio Kamo, acentuou-se. Flutuava, vindo da outra margem, pelo que Toshikiyo cruzou o rio por um vau.
Era a noite do sexto dia de novembro e estava escuro pois não havia lua. Cruzaram o rio à pálida luz das estrelas que brilhavam bem altas no céu. Na outra margem, encontraram um homem sentado sobre uma rocha, vestindo um capote de palha e um chapéu de vime. Nas suas mãos estava um incensário. Tinha um ar de paz e serenidade.
Toshikiyo perguntou-lhe:
“Prezado forasteiro, por que razão estás sozinho num lugar como este a uma hora tão tardia?”
E enquanto falava, sentiu o perfume que se elevava do incensário do forasteiro.
O outro respondeu:
“Estou a ouvir o canto das tarambolas do rio Kamo.”
Toshikiyo ficou impressionado pela resposta… para apreciar o canto das tarambolas do rio em tão escura e fria noite, o homem tinha de ser finamente educado e não podia ter origens modestas.
Disse-lhe, agora mais polidamente:
“Desculpai a minha curiosidade, mas o meu senhor, o xogum Yoshimasa, ordenou-me que encontrasse o homem que espalha tão doce perfume. Quem sois, forasteiro?“
O homem respondeu:
“Não sou um sacerdote que tenha renunciado aos assuntos mundanos pelo amor de Buda. Nem sou um homem vulgar. Tomai-me, antes, por um viajante sem lugar onde repousar a cabeça. Tenho mais de sessenta e seis anos de idade, mas as minhas pernas ainda são firmes e posso caminhar sem dificuldade.”
E levantou-se e dirigiu-se aos pinheiros das margens do rio.
Era uma resposta simples, mas cheia de mistério. A surpresa de Toshikiyo aumentou; deteve o estranho e perguntou-lhe:
“Rogo-vos que me digais o nome deste incenso. O meu senhor Yoshimasa gostaria de o saber.”
O homem respondeu:
“Estais assim tão ansioso por saber algo tão insignificante? Se o vosso senhor é tão apaixonado por incenso, levai-lhe este, embora já não reste muito.”
E, dando-lhe o incenso e o incensário, afastou-se rapidamente.
Toshikiyo regressou com o incenso e o incensário, e contou ao seu senhor Yoshimasa todos os detalhes da conversa com o estranho ancião. O xogum ficou muito intrigado com o refinamento do forasteiro e ordenou que o procurassem por toda a Quioto; mas nenhum vestígio do ancião foi encontrado. O xogum ficou contrariado, mas guardou o seu presente com o maior cuidado. Chamou ao incenso “Tarambola” e a invulgar história logo se espalhou entre os seus servidores.
(continua)
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Foto: fonte Wikipedia